sábado, 4 de abril de 2009

Olha o álcool aí minha gente!

JORNAL ESTADO DE MINAS - 04/04/2009

GUERRA COMERCIAL
O exterminador do etanol
Califórnia, estado de Schwarzenegger, encomenda pesquisa que aponta falhas do álcool brasileiro
Marinella Castro

O Brasil está correndo contra o tempo para garantir o futuro do comércio do etanol no mercado americano e, por consequência, mundial. A Califórnia, estado governado por Arnold Schwarzenegger, apresentou, no mês passado, complexo documento contendo o resultado de um ano de pesquisas que não só aponta os benefícios do etanol do milho, como ressalta falhas do combustível brasileiro, produzido a partir da cana-de-açúcar. A pesquisa foi desenvolvida pela Universidade de Purdue (da cidade americana de Indiana), a partir de dados do Grupo de Estudos e Trabalhos Agropecuários (Getap, sigla em inglês). O documento seria mais um ponto na guerra pela comercialização do etanol. Hoje, o combustível brasileiro enfrenta taxação de US$ 0,54 por galão, mais 2,5% de taxa, ao entrar nos Estados Unidos. Ao todo, o Brasil teria 45 dias para apresentar um segundo estudo, contrapondo itens como o avanço da cana sobre áreas de pastagens, remoção de cobertura vegetal, invasão do espaço de outras culturas, além do sequestro de carbono inferior ao do etanol de milho. A contar da data de apresentação, o prazo brasileiro expiraria em 23 de abril. “O documento é pesadíssimo e chega em um momento onde o estado da Califórnia acrescenta etanol à gasolina. Nos massacrou”, comenta uma fonte ligada do setor, que teve acesso ao estudo, sendo também especialista e pesquisador sobre o tema. Com PIB aproximado de US$ 1,5 trilhão, o estado da Califórnia, se fosse um país, poderia ocupar lugar entre as 10 maiores economias do mundo. No ano passado, o PIB brasileiro fechou em R$ 2,9 trilhões, ou US$ 1,3 trilhão. “Um estudo com esse teor, se chegar ao Congresso americano, que é conservador, pode ter uma consequência negativa para o Brasil”, comenta o secretário de Agricultura Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Gilman Viana. O assunto está sendo tratado como sigiloso. Esta semana, executivos brasileiros ligados ao setor de biocombustíveis estavam em viagem para a Califórnia. O Ministério de Minas e Energia não confirmou a informação, mas ressaltou que existem pesquisas americanas no sentido de comprovar benefícios do reaproveitamento do resíduo do milho. Coincidentemente, a Embrapa Agrobiologia está trabalhando em um estudo para comparar a economia de gás carbônico na produção do etanol de milho e da cana-de-açúcar, a partir de dados do Departamento de Agricultura Americano. Entre os principais argumentos da pesquisa do estado da Califórnia está o fato de o resíduo do milho ser utilizado para alimentação de bovinos, além de poupar áreas de outras culturas. De acordo com o documento, apesar de mais caro, no balanço energético global o etanol do milho seria menos nocivo ao meio ambiente.
Jim Young/Reuters 20/3/09
O professor de geografia agrária da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador na área do etanol, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, considera que o estudo da Califórnia pode se tornar mais uma barreira ao produto brasileiro. No entanto, ele ressalta que o presidente dos Estados Unidos deixou claro que não pretende no momento, rever a sobretaxa. “O etanol é um combustível para o mercado interno.” Segundo o professor, a produção do etanol de milho para o governo americano é uma questão estratégica, e por isso, o país deve continuar importando apenas pequenas quantidades de outros países. “Já quanto ao Brasil, pelo último balanço da Petrobras podemos perceber que a prioridade de investimento do país será o pré-sal. O mercado é implacável”, avalia. “O sucesso incomoda”, resume o especialista da Octávio Antônio Valsechi, professor pesquisador da Universidade Federal de São Carlos. Segundo ele, o país desenvolveu um combustível viável ambientalmente e ecologicamente e por isso uma grande promessa mundial nos próximos cinco anos. “Certamente o etanol será uma das matrizes energéticas do mundo.”

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Fórum Meio Ambiente e Comércio Exterior

Publico a seguir, com o consentimento da autora - Analuce de Araújo Abreu, o trabalho escolhido como texto referência para a Reunião Online (ROL) onde se discutiu a importância do Comércio exterior e da globalização, bem como sua interface com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.
Parabéns Analuce, e obrigado!
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Módulo: 4

Título: Competição e Predação no Mercado Internacional.
Aluno: Analuce de Araújo Abreu
Disciplina: Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável
Turma: 4

Introdução

O desafio de inovar, a transferência de tecnologias e do capital intelectual, a projeção das competências, a heterogeneidade que favorece a oferta e a multiplicidade dos recursos, podem, quem sabe, ser considerados alguns dos pontos positivos que surgem com as relações comerciais externas. Portanto, as regras reguladoras do jogo devem promover a competitividade entre os jogadores, nivelando-os, de forma a garantir a eficiência das relações em atender as necessidades de mercado e as socioambientais, sem camuflar interesses e nem tampouco favorecer o domínio e o monopólio, por parte de poucos.
Porém, mesmo com as regras do jogo definidas e redefinidas, a competição praticada no mercado mundial tem sido predatória e suas implicações culminam em aumento da desigualdade do poder econômico, gerando um antagonismo entre seus princípios, práticas e resultados. Estes culminam ainda no uso indiscriminado uso dos recursos naturais, principalmente nos países pobres, resultando em degradação da qualidade de vida e ambiental.

Justificativa
Para abordagem das estratégias usadas muitas vezes no comércio mundial, serão usados aqui, os termos Competição e Predação. Estes representam relações intra e interespecíficas evidentes na Ecologia da Economia Mundial, que, na atualidade, pauta-se na idéia de sustentabilidade dos recursos naturais, considerando os limites ecológicos internos, externos e globais, regidos pelos fenômenos e leis naturais e pela biosfera, que independem da vontade humana.
Num conceito breve, Competição envolve uma disputa, na qual os mais adaptados se destacam, resultando em extinção ou recuo dos mais fracos. A predação na ecologia é o termo usado para indicar a relação que envolve animais que perseguem e caçam suas presas, aproveitando de suas fragilidades. No geral, os predadores são sempre bem maiores e mais fortes que suas presas.
A Competição em que prevalece a relação de predação, aqui exemplificadas como, aquelas em há práticas como o “dumping”, tarifas e barreiras incoerentes com a realidade e os subsídios, culminam na discrepância da oferta e dos custos para o mercado externo, com conseqüências danosas para o meio ambiente, levando à degradação, exploração do trabalho humano, pobreza e desigualdade social. Estes jogadores distorcem as regras do mercado, reduzem a competitividade desnivelando a concorrência e promovendo a desigualdade com prejuízo para os pequenos e politicamente frágeis. Como conseqüência, o domínio e a concentração das riquezas mantidas nas mãos de uma minoria, em uma tradição secular.

Desenvolvimento

Este tipo de relação propicia situações de extrema pressão no mercado internacional, culminando necessidade de aumento de produção em detrimento dos custos. No que tange ao mercado de commodities, até mesmo pequenas oscilações do preço são muito significativas.
Enfim, o antagonismo existente entre a produtividade para competitividade, em um mercado predatório, o baixo preço praticado para matéria prima e sub-produtos do agronegócio, induz à necessidade da ampliação de barreiras agrícolas para aumento dos cultivos, com finalidade de manter a competitividade no mercado mundial. Finaliza por fomentar o desmatamento e a ocupação ilegal, principalmente em regiões onde a fiscalização é ineficiente e muitas das vezes inexistente. Resulta em reordenamento das atividades locais e por fim regional, leva ao esgotamento de áreas extensas de solo, fato que se pode evidenciar no sul do Brasil, através dos focos de desertificação já instalados.
Além destes, a destruição dos biomas a perda do material genético coloca em risco a biodiversidade, como exemplo o Cerrado, considerado muitas vezes área improdutiva. No que tange a conservação dos biomas no Brasil, sua perda vem sendo considerável e importante. O percentual que representa este declínio se aproxima de mais de 15% de perda de cobertura vegetal na Amazônia (Fearnside, 1995 e Biodiveristas, 2005), 7% de redução na extensão da Mata Atlântica (Biodiversitas, 2005 e Capobianco, 1998), restando em torno de 27% de sua cobertura original (Drummond, 2008) e a vegetação nativa de Cerrado perdeu 2/3 de sua cobertura original para áreas antropizadas (Biodiversitas, 2005 e Dias,1993), ou seja de pecuária, cultivo e urbanização.
Em Minas Gerais foi a partir da década de 40, no século XX (Biodiversitas, 2005) que a expansão da economia, através da agricultura cafeeira, seguida pela siderurgia agravou a situação de degradação ambiental. Atualmente Minas é um dos Estados empenhados em incrementar a produção de cana de açúcar, soja e outras culturas voltadas para produção de álcool e biodiesel. Para atender o mercado interno e externo, o Brasil deverá ter até o final de 2035, implantado em torno de 900 grandes usinas com capacidade superior a 100milhões de litros/ano de biodiesel. Para tal, será necessário incorporar quase 20milhões de hectares de novas áreas para o plantio de oleagionosas.
Para além das questões ambientais locais e globais, advindas das pressões comerciais, os riscos para as questões de ordem social/humana são graves. A desvalorização do trabalho humano pela baixa remuneração dos trabalhadores, pode ser exemplificada no processo de produção do etanol. De acordo com Assis e Zucarelli (2008), trabalhadores cortadores de cana para a produção do biocombustível, ganham pouco mais de 1 dólar por dia e ficam expostos a riscos de acidentes que muitas vezes são fatais. A perda da autonomia sobre as terras, comumente arrendadas e posteriormente largadas e degradadas, a pobreza persistente, nem de longe refletem as promessas de desenvolvimento econômico e social.

Conclusão
O melhor seria se pudéssemos usar um novo termo em detrimento de Predadores e Presa, para fazer referência aos jogadores do mercado externo. Supostamente, respeitariam as regras do jogo e competiriam com suas habilidades e potencialidades, sem a relação de submissão e domínio. A estratégia poderia ser o crescimento da economia em países subdesenvolvidos, um freio no consumo dos países desenvolvidos, uma economia ecológica baseada na capacidade de suporte instalada dentro dos limites físicos regionais, onde os peões pudessem usar a tecnologia para explorar as potencialidades e inovar de forma simultânea a beneficiar as sociedades e promover a sustentabilidade. Considerando assim a prática dos preços adequados à remuneração da matéria prima e produtos, mão-de-obra e a conservação ambiental. Para tal será necessária a adoção e prática políticas verdadeiramente amplas, que permitam a real inserção e a participação de todos os jogadores interessados.
A economia e o comércio mundial não podem ser vistos de forma dissociada da ecologia e da natureza humana. Numa escala global, manter as relações de troca através de livre comércio deveria implicar em garantir a sustentabilidade dos recursos e minimização dos conflitos sociais, extraindo desta prática o que ela tem de melhor e formando alianças para garantir a dignidade humana.


Referências bibliográficas
Assis, Wendell Ficher Teixeira; Zucarelli, Marcos Cristiano; Ortiz, Lucia. Despoluindo Incertezas – Impactos territoriais da expansão dos agrocombustíveis e perspectivas para uma produção sustentável. O Lutador. Belo Horizonte, 2007.

Biodiversidade em Minas Gerais. Um atlas para sua conservação. Fundação Biodiversitas, 2005. BIODIVERSITAS.

Clóvis Cavalcanti (Org.) André Furtado, Andri Stahel, Antônio Ribeiro, Armando Mendes, Celso Sekiguchi, Clóvis Cavalcanti, Dália Maimon, Darrell Posey, Elson Pires, Franz Brüseke, Geraldo Rohde, Guilherme Mammana, Héctor Leis, Henri Acselrad, Josemar Medeiros, José Luis D'Amato, Maria Lúcia Leonardi, Maurício Tolmasquim, Oswaldo Sevá Filho, Paula Stroh, Paulo Freire, Peter May, Regina Diniz, Antônio Rocha Magalhães. DESENVOLVIMENTO E NATUREZA: Estudos para uma sociedade sustentável. INPSO/FUNDAJ, Instituto de Pesquisas Sociais, Fundacao Joaquim Nabuco, Ministerio de Educacao, Governo Federal, Recife, Brasil. Octubre 1994. p. 262. Disponible en la World Wide Web:
http://168.96.200.17/ar/libros/brasil/pesqui/cavalcanti.rtf

http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=746

http://www.biodiversitas.org.br/

Zoneamento ecológico- www.siam.mg.gov.br , 2009.

domingo, 29 de março de 2009

Parabéns pela iniciativa, Rica!
Espero que este espaço possa contribuir efetivamente para um desenvolvimento sustentável.
Abraço.
Lyssandro

sábado, 28 de março de 2009

Sobre esse blog ....

A idéia de criar este blog nasceu a partir de uma ROL da turma do curso Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável da FGV, em março de 2009.

Seja bem vindo para nos visitar e sugerir assuntos a serem abordados, sem temática fixada, mas preferencialmente dentro do escopo da Gestão Ambiental, do Desenvolvimento Sustentável e demais temas relacionados.